Fora da caridade não há salvação.


O SILÊNCIO DAS RELIGIÕES

02/02/2012 03:34

 

O Silêncio das Religiões

Vivemos uma época de paradoxos: nunca se falou tanto em paz, mas nunca se ensinou

tanto a guerra, a grosseria, a brutalidade, a violência. Como é possível criar uma sociedade

pacífica, serena, nos modelos ensinados por Jesus, por Buda, por Francisco de Assis,

por Ghandi, se desde a infância a criatura humana é submetida a um aprendizado de violência

por meio áudio-visual em cores no cinema e no lar? Observem-se os desenhos animados,

plenos de exemplos de brutalidade, de destruição, de desrespeito às coisas e à vida,

que são apresentados às crianças na televisão e na internet. As cenas se sucedem,

mostrando seres disformes, monstruosos, criaturas que se combatem e se destroem de

modo espetacular, arruinando tudo o que está ao seu redor, através de socos, pancadas,

raios, explosões. Pergunta-se como ensinar à criança a paz, a tranquilidade, o respeito às

coisas e às criaturas, se lhe são apresentados exemplos que a induzem exatamente ao contrário?

O resultado dessa sementeira de brutalidade e desumanização é visto todos os dias

nas estatísticas, que apresentam o crescente número de desavenças, de agressões e de

mortes.

Como será possível a uma criança chegar à condição de adulto sem tornar-se consumidora

de alcoólicos, se a televisão faz uma pregação insistente sobre o prazer de consumi-

los, em todos os horários, dentro dos lares, usando como pano de fundo a euforia do

futebol, a alegria do convívio humano? Nesse particular, evidencia-se o imenso poder dos

produtores de bebidas alcoólicas, que não só conseguiram manter sua propaganda na mídia,

como ganharam o espaço anteriormente usado pelos produtores de cigarros. A batalha

contra o fumo foi vitoriosa, colocando o Brasil bem à frente de países mais desenvolvidos.

Entretanto, o fumo é bem menos lesivo à sociedade do que o álcool. O dano produzido pelo

fumo se restringe quase que só ao seu usuário, enquanto que o do álcool é capaz de

destruir uma família inteira. Por que não regulamentar a propaganda, a venda e o uso de

alcoólicos como se fez com o fumo? Mas apesar de o uso do álcool ser muito mais danoso

que o do fumo, não há legislação que obrigue os fabricantes de bebidas alcoólicas colocarem,

nos seus produtos, avisos quanto aos malefícios do seu uso, conforme é exigido nas

embalagens de cigarros.

E, por falarmos em propaganda danosa, o que dizer quanto à licenciosidade sexual,

o que dizer sobre as aulas de prostituição que entram nos lares, em todos os horários? As

cenas de intimidade vividas por casais são apresentadas em novelas exibidas à tarde e à

noite. Alguns programas são apresentados em horário mais avançado, dado o nível de sensualidade

que apresentam, mas as suas chamadas, os seus anúncios são feitos em todos

os momentos. Há programas que não apenas são atentatórios aos bons costumes, à moral,

à ética, mas à própria dignidade humana, onde se evidencia não só a licenciosidade, mas

também a ausência de pudor, de senso de privacidade, este, um dos atributos que distingue

o ser humano do restante da criação. Há programas humorísticos que pregam abertamente

a promiscuidade, o desrespeito, o deboche, o uso do palavrão. O aviltamento da

mulher se tornou tão comum que é olhado pelo viés humorístico. Há flagrante apoio à mulher

leviana, despudorada, em detrimento da nobre figura da mulher-esposa, da mulhermãe.

Mas, afinal, vivemos num país que se diz cristão. Será que o Cristianismo é para ser

vivenciado apenas no interior das comunidades religiosas? Será que se deveriam isolar do

mundo aqueles que não desejam compactuar com esse estado de coisas, ou lutar para que

o mundo se torne compatível com os ensinamentos do Cristo? Se aqueles que desejam

manter uma vida equilibrada, respeitosa pretenderem afastar-se do convívio com a sociedade,

como interpretariam a recomendação de Jesus, registrada por dois evangelistas: “Eis

que vos envio como ovelhas no meio de lobos (...)” (Mt, 10: 16) e “Ide; eis que vos mando

como cordeiros ao meio de lobos.” (Lc, 10: 3)?

Diante da recomendação de Jesus, não devemos criar ilhas onde se viva cristãmente,

mas devemos trabalhar no sentido de cristianizar todos os lugares.

Como nos sentiríamos se, subitamente, aparecesse Jesus ao nosso lado, quando

nossas crianças estão vendo certos desenhos, ou estamos assistindo a algumas dessas novelas,

desses filmes ou algum desses programas?

E o que estão fazendo as religiões no sentido de despertar as criaturas para uma

mudança de atitude, a fim de que assumam sua real posição diante do Cristo? Será que o

papel das religiões é levar seus fiéis a pensarem em Deus, ouvindo enternecidamente comentários

sobre os ensinamentos de Jesus, somente no interior dos templos, em momentos

sagrados? Mas Jesus nunca separou a vida em momentos sagrados e momentos profanos.

De acordo com os Seus ensinos, os princípios éticos e morais devem permear todos os

atos da vida, em todos os ambientes. Portanto, é premente a necessidade de se despertar

o homem para o esforço de proceder de conformidade com esses ensinamentos, em todas

as circunstâncias da vida, conforme Ele ensinou e exemplificou. Logo, as religiões devem

esclarecer o homem no sentido de não esperar o Céu depois da morte, mas de construí-lo

aqui, em todos os ambientes, principalmente dentro de si mesmo, desde agora.

E como estamos procedendo nós, espíritas, nesse cenário caótico em que vivemos?

As casas espíritas estão promovendo reflexões sérias que nos levem a nos situarmos na

vida como espíritos imortais temporariamente encarnados? Estamos tendo oportunidade de

avaliação das propostas da televisão, do cinema, do teatro, da literatura ante nosso futuro

no Mundo Espiritual? Lembremo-nos de que, se o Espiritismo não nos atemoriza com o Inferno,

também não nos oferece um Ceu conquistado sem esforço no Bem. A verdade é que

também nós estamos um tanto acomodados diante do panorama atual, pois raras vozes se

erguem para denunciar esse tremendo antagonismo entre o que nos oferece a mídia, e as

diretrizes de conduta ensinadas no Evangelho.

Portanto, diante dessa ruína moral que se vê na atualidade, é de se perguntar onde

estão as vozes dos condutores de almas, onde estão as vozes das religiões que silenciam

diante de tanta ignomínia? Será que aguardam a volta de João Batista?

José Passini

passinijose@yahoo.com.br

 

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